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0031 | A viagem até o Chile e mais uma experiência para a caixinha.

  • Regina Feitoza
  • 17 de jul. de 2016
  • 6 min de leitura

Viajar com uma mochila e pedindo carona não é assim tão difícil. Pelo menos pra mim, que estou me divertindo com esse estilo de vida. Pode render variadas histórias, mas o que rende mesmo são os aprendizados.

Iríamos passar apenas quatro dias em Mendoza, Argentina e depois seguir pra Santiago, Chile, mas quis a mãe natureza que passássemos um pouquinho mais. Mendoza faz fronteira com Chile, bastando sair da capital até o último povoado argentino e cruzar um túnel por dentro da cordilheira que do outro lado está o Chile, simples assim.

Bem, mas na vida de um mochileiro nada é simples assim. Saímos de Mendoza na segunda-feira bem cedinho rumo a Uspallata e de lá faríamos carona até Santiago. Chegando na cidade haviam duas estradas, o Luciano foi perguntar a um guarda que controlava o trânsito, qual direção deveria tomar pra o Chile, enquanto eu o observava notei nele um semblante preocupado, quando chegou até mim a tristeza nos abateu. A passagem pro Chile estava fechada.

Estamos agora no inverno e meados de julho é alta estação, aqui na região das cordilheiras do Andes neva muito e alguns dias neva tanto que é impossível para as autoridades liberar o trânsito, tanto o local quanto a passagem pro Chile que é feita por dentro das montanhas em uma extensão de mais de 3Km. Tanto um país quanto o outro fecham suas passagens quando neva demais.

Bem, como eu havia dito, a mãe natureza não nos queria deixar sair de Mendoza, pelo menos, não naquela segunda-feira e pra nos prender lá mandou neve, mas mandou muita neve. Foram cinco dias seguidos nevando forte desde o domingo passado e apenas na quinta-feira à noite as autoridades dos dois países conseguiram começar a limpar a neve para liberar o trânsito na sexta pela manhã.

Havia na cidade de Uspallata mais de 400 caminhões esperando a abertura das estradas para seguir viagem. Na sexta-feira quando foi liberada a pista, havia uma fila de carros de mais de 4km para fazer os trâmites na aduana chilena. Decidimos então ir no sábado, assim, talvez, a fila de carros na aduana estaria menor e não passaríamos um dia inteiro pra chegar ao nosso destino. Mas quando se viaja de carona não se pode fazer muitos planos em relação à duração do tempo de vagem.

Mais uma vez, agora no sábado, fomos pra rodoviária de Mendoza pegar um ônibus até Uspallata e lá, já com as estradas liberadas para o trânsito local e o cruzamento da fronteira pro Chile, fomos tentar uma carona. Íamos andando pra manter o corpo aquecido em meio a neve enquanto fazíamos sinal de pedido de carona para os carros e caminhões que iam passando. Eram muitos, as estrada estavam fechadas havia cinco dias, então não seria difícil encontrar alguém para nos levar.

Alguns minutos depois parou um carro. Um modelo luxuoso tipo SUV. Era um homem que parou e já fi descendo pra abrir o porta malas para por nossas mochilas. Ele ia só até metade do caminho e de lá iríamos tentar outra carona. Fomos conversando e ele era um empresário do ramo alimentício que possuía um apartamento em um residencial no meio da neve do parque Aconcagua, coisa para muito poucos. Amava viajar, mas viajar a passeio com a família.

Nos contou como eram solitárias as viagens que fazia ao redor do mundo a negócios, que muita gente vendo ele viajar tanto, comentava que queria sua vida e ele só queria estar ao lado da família e por muitas vezes combinava as viagens de negócios com alguns dias livres pra conhecer a cidade e assim podia levar a família e curtir o lugar.

Fomos todo o caminho conversando sobre essa vida de viajeiro, não importando se era de mochila ou a bordo de primeira classe em aviões luxuosos. Chegando no seu ponto final, nos convidou para um café e queria nos apresentar sua esposa, ele tava muito empolgado com nossa história e queria que ela nos conhece também.

Eles eram um lindo casal de 50 anos que se conhecem desde os 13, com três filhos e ele queria que seus filhos tivessem alguma experiência por eles mesmos, como ele dizia, sem o dinheiro do papai. Nos fez um montão de perguntas sobre a viagem e algumas anotações pra conversar com os filhos mais tarde! Essa é uma parte boa da viagem, inspirar pessoas a sair do seu estado de conforto.

Foto com casal

Depois de um café, uns bolinhos e muita conversa depois, voltamos pra estrada em busca de mais uma carona. Agora faltava muito pouco, pelo menos pra chegar até a aduana chilena.

Dessa vez quem parou foi um carro do tipo pick up e como o banco de trás estava cheio fomos na caçamba. Nada demais né? a não ser que estávamos percorrendo a cordilheira dos Andes em pleno inverno com neve pra todo lado e estávamos em cima de uma caçamba de uma pick up hahahahha um vento extremamente gelado que só suportamos porque percorremos apenas 20km. O casal que nos deu essa carona, nos levou até a entrada do túnel que faz o cruzamento da Argentina para o Chile e voltaram. Sinceramente não entendi para onde iam, descemos, agradecemos muito e eles partiram.

Agora faltava muito, muito pouco pra chegar no outro país, o túnel tem só 3km rapidinho e estaríamos do outro lado, mas sabe como é né, na vida de mochileiro nada é tão simples assim.

Praticamente na entrada do túnel tem um pedágio e fomos alertados pelos funcionários de que é proibido cruzar o túnel a pé. O jeito era conseguir mais uma carona.

Parece que quanto mais fácil,mais difícil. Nenhum carro queria nos levar, nenhumzinho. Eu comecei a tremer de frio e a ficar preocupada com isso. Estávamos no meio do nada, não passaria um ônibus e não tava aparecendo ninguém disposto a nos levar até o outro lado do túnel.

Mas a mãe natureza protege os viajantes. Um homem que nos observava veio a até nós perguntar par onde iríamos, o que fazíamos isso e aquilo. Conhecendo nossa história, se ofereceu a nos levar até o outro lado e de lá ele voltaria e nós íamos seguir viagem. Que maravilha, era tudo o que precisávamos, só uma caroninha de 3km. Fomos até seu carro onde estava sua esposa e ele foi avisar aos filhos que brincavam na neve que voltava já. No carro quentinho parei de tremer de frio, fomos conversando e rindo da situação. Cruzamos o túnel, atravessamos a fronteira e chegamos do outro lado. Já era território chileno, mas havia muito a percorrer até a cidade de Santiago, nosso destino.

Aí, aconteceu um coisa bem inusitada.

Primeiro demos de cara com uma fila enorme de carros. Os funcionários do pedágio la na Argentina ainda, disseram que depois que se cruza o túnel são mais ou menos 4km até a aduana chilena, onde faríamos os trâmites da saída da Argentina e entrada no Chile. Quando nossa carona nos deixou do outro lado do túnel e vimos que logo ali havia uma fila de carros e caminhões totalmente parados, decidimos ir andando até a aduana.

Aí vem o inusitado.

Todos estavam parados, completamente. Motores desligados, famílias fora dos carros, crianças brincando na neve e nós passando. Andamos sem parar, até pra manter o corpo aquecido, até a aduana. Percorremos os 4km na perna, enquanto isso todos os carros que passaram por nós e nos recusaram carona, estavam parados e nos vendo passar. Alguns motoristas até nos acenaram, um outro nos cumprimentou e nós continuamos a seguir em frente.

Não sei o que passava na cabeça deles enquanto nos via passar. Os que nos cumprimentaram, talvez um sentimento legal de ver que conseguimos.Mas havia alguns, aliás, muitos que até travavam a porta do carro quando nos aproximava. Me senti na pele dos motoqueiros, pelo menos os motoqueiros brasileiros, quando passam pelos carros e os motoristas travam suas portas.

Nessa viagem já sofri algumas discriminações e essa foi apenas mais uma para minha caixinha de experiências.

Finalmente chegamos na aduana, fizemos todos os nossos trâmites e, depois de tantas caminhadas sem comer muito bem o dia inteiro, estávamos cansados demais pra seguir pedindo carona, fora que tava muito frio. A noite já se aproximava e o risco de nevada também. Na aduana havia muitos ônibus que vinha da Argentina pro Chile. Depois de nosso processo finalizado, buscamos duas vagas em um ônibus negociamos com o motorista o valor da passagem até Santiago e seguimos o restante da viagem de maneira mais confortável.

Enfim chegamos em Santiago, achamos a casa do nosso host e aquele que será nossa enquanto estivermos por aqui.

 
 
 

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