0033 | Deserto do Norte do Chile
- Regina Feitoza
- 4 de ago. de 2016
- 4 min de leitura

Saímos de Santiago um dia atrasado em relação ao nosso planejamento, pois, quando acordamos estava uma chuva muito forte e consultando site sobre o clima esse dia seria todo chuvoso na cidade. Íamos começar a fazer carona em um pedágio logo depois de Santiago e por lá, de acordo com os sites meteorológicos, também tava chovendo demais. Assim, decidimos partir no outro dia. Voltamos a dormir e quando acordamos, bem mais tarde, o dia estava lindo, sol forte e nenhuma nuvenzinha...
Mas pra pegar carona na estrada é necessário chegar cedo, ainda mais que tínhamos uns 1600Km pela frente. Já sabíamos que seriam, pelo menos, uns quatro dias de viagem, então aquela hora já não era mais interessante pegar estrada. No outro dias às 6h da manhã já estávamos a caminho da rodoviária, àquela hora, no inverno chileno, o sol ainda não havia saído, mas a meteorologia indicava um dia ensolarado.
A saída de Santiago foi uma odisseia. A cidade possui quatro rodoviárias, dessas só conhecíamos duas. Fomos em uma por indicação que ali poderíamos pegar um ônibus até aquele que seria um ponto ideal para caronas, aí começa nossa caça ao ônibus. Nessa primeira rodoviária fomos informados que numa outra, vizinha, saiam ônibus para a Ruta 5 norte e que eram bem mais baratos. Opa, informação quente. Fomos até a segunda rodoviária, que nos passou pra primeira, informei que já estivemos lá, então era numa terceira, ali, vizinho, só atravessar a rua, fomos.
Na terceira rodoviária conseguimos a melhor das informações, completa e segura que o nosso ônibus baratinho que ia pro nosso destino saía regularmente da quarta rodoviária... e essa não era ali vizinho... caminhamos quatro longas quadras,carregando mochilas pesadas enquanto cortávamos o vento frio do inverno chileno. Finalmente encontramos a dita rodoviária, tão grande que quase caminhamos o mesmo tempo de percurso pra encontrá-la até chegar em suas plataformas de embarque.
Uma rodoviária sem muita estrutura para o frio, entrava vento por todos os lados e as pessoas perdidas nas informações sobre qual ônibus deveríamos tomar. Então resolvemos perguntar ao motoristas dos ônibus que paravam para o embarque e depois de algumas idas e vinda, finalmente um que ia para o pedágio Lampa da Ruta 5 norte!
O motorista nos vendo com mochilões nas costas, logo percebeu que não tínhamos muito dinheiro e nos cobrou uma passagem super simbólica, só pra não dizer que nos estava levando de graça. Partimos rumo ao nosso destino e ali começar a pedir carona para o norte do Chile, destino final: San Pedro de Atacama.
Mas, ao descer no pedágio, qual não foi nossa surpresa ao perceber que o clima estava extremamente frio e a estrada totalmente tomada por uma densa neblina que era impossível enxergar mais que um palmo diante do próprio nariz. Com aquele clima caminhão nenhum nos enxergaria, como iríamos pedir carona? Claro, um desânimo toma conta, mas um viajeiro não se deixa abater.
Ali, logo depois do pedágio, havia uma barraquinha que vendia café e umas coisinhas pra comer. Enquanto eu e o Luciano decidíamos o que fazer pra driblar a neblina, encostou um caminhão e o motorista desceu pra um café quentinho na barraca do lado. O Luciano foi até ele pedir uma carona e a surpresa: O motorista muito alegre e sorridente nos levaria até uns 100Km a frente.
Foi uma ótima carona. Além da viagem íamos conversando sobre a cultura chilena e aprendendo sobre as paisagens que a estrada nos ia presenteando. Depois dessa foram mais umas cinco caronas, entre carros e caminhões, até que chegou aquela que foi a melhor carona de todos esses seis meses de viagem.
Havíamos percorrido pouco mais de 200Km e o final da tarde já nos alcançava. Depois de uma longa experiência na estrada, sabíamos que àquela hora as caronas ficavam escassas e à noite, impossíveis. Começamos então a andar pela estrada procurando um lugar seguro para armar a barraca, foi quando passou um caminhão e parou, perguntou pra onde íamos. Norte do Chile, na verdade San Pedro de Atacama. O motorista também ia pro norte e nos deixaria uns 200Km do nosso destino final. Que maravilha, uma carona mais que perfeita, entramos no caminhão e... uau... era um verdadeiro apartamento.
O caminhão era enorme. Duas camas, guarda roupas, mesa, tv... Percorremos mais de mil quilômetros com ele em duas noites e dois dias, foi uma aventura. No caminho, ainda na primeira noite, paramos no meio do nada para um banho quente em uma casinha que era parada de caminhoneiro, tudo muito limpo e organizado e ninguém por perto pra manter o zelo. Essa parada se repetiria no dia seguinte alguns km's à frente.

Dormimos no deserto. Caminhão completamente fechado, Luciano e eu com dois edredons e ainda sentíamos um friozinho, fiquei imaginando que seria impossível dormir numa barraca naquelas condições de temperatura do deserto. Que a natureza protege quem viaja e envia anjos pra nos salvar!
Foram dois dias muito divertidos, mais conversas sobre a cultura do Chile e do Brasil, sobre política, futebol e a vida de caminhoneiro. Ganhamos lanches durante o trajeto e um almoço de despedida. Ao final só tínhamos um muito obrigado, um abraço, um aperto de mão. Porém um sentimento puro de gratidão.
Seguimos viagem, porque essa é a vida do viajeiro das estradas. Mais duas caronas e chegamos ao nosso destino final San Pedro de Atacama, chegando lá descobri que a cidade é igualzinha ao Vale do Capão, Bahia, onde moramos um mês. Uma cidade cheia de mochileiros em busca de aventura oferecida pela natureza.
De Santiago até San Pedro, vimos a transformação da paisagem verde em deserto, primeiro de montanhas rochosas, depois apenas areias, clima extremamente seco. Muito quente pelo dia e à noite extremamente frio, ou seja, deserto.
Nunca tinha conhecido um deserto antes, foi uma viagem incrível vendo a paisagem se transformar.
Na funpage é possível ver mais fotos e vídeos sobre a travessia do Deserto do Atacama.
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