0035 | Bolívia, relatos de viagem!
- Regina Feitoza
- 20 de ago. de 2016
- 9 min de leitura
A viagem pela Bolívia foi um misto de sensações. O país é do tipo ame-o ou deixe-o. Em uma cidade você ama a Bolívia, na outra você passa a odiar o país e sua gente hahahahah. É muito rico culturalmente e cada cidade tem sua beleza, seja por sua gente, sua cultura ou ainda por sua natureza. Mas também tem seus problemas, mas isso todos têm não é mesmo? Por isso não dá pra odiá-lo pra sempre.

Viajar para a Bolívia não é para qualquer um, é realmente difícil para alguém que está acostumado a uma vida de escritório com uma rotina bem planejada sair dessa zona de conforto e ir direto pra Bolívia, recomendo fazer um estágio antes, uma preparação. É um impacto e dos fortes. Há de ter a mente aberta para grandes mudanças, muita paciência e disposição para conhecer essa nova cultura, entender seu povo e enfim, desfrutar do melhor que a Bolívia pode oferecer.
Se você não entra no país por alguma cidade grande, como Santa Cruz de la Sierra ou La Paz, o impacto já começa na rodoviária, ou pelo menos, o lugar que deveria ser uma de acordo com os moldes que estamos acostumados. Se bem que, mesmo nessas duas cidades maiores você já vai perceber que alguma coisa está fora dos moldes.
Ao chegar na rodoviária você é cercado por um monte de gente que vende as passagens dos ônibus, tipo assim, você chega e é cercado por umas cinco ou oito pessoas e cada uma tentando gritar mais alto que a outra sobre o destino e o preço além das ofertas sobre o preço do outro. É surreal. Eu fiquei, literalmente, tonta, não entendia absolutamente nada, sai quase correndo do meio deles e quando já estava afastada comecei a rir da situação kkkkkkk, uma loucura, nunca havia passado por aquilo e tão pouco espera que acontecesse em uma rodoviária. Talvez se fosse no mercado não teria me assustado tanto.

Longe de todos e rindo da cena que fui protagonista busquei um a um para consultar preços e horários do meu próximo destino e os outros riam da cena que eles mesmo criaram.
E assim fui descobrindo que na Bolívia tudo é vendido na base do grito. Ou eles gritam literalmente seu produto e preço, no caso dos vendedores de rua, ou sempre baixam o preço do concorrente pra não perder o cliente e assim você consegue preços bem baixos no país e é aí que entra a próxima observação.
Quando dissemos que íamos pra Bolívia vários amigos avisaram que lá era tudo muito barato e que podíamos sempre conseguir mais barato, porque bolivianos estão sempre negociando. Oficialmente entramos no país pela cidade de Uyuni, mas por ela passamos apenas com o tour que fizemos desde San Pedro de Atacama para cruzar o Salar, ao final do tour tomamos um ônibus direto para a cidade de Potosi.

Em Potosí encontramos uma Bolívia clichê. Suja, pobre e de gente mal educada. Sobre os preços baixos e a prática da negociação, como havia dito, era realmente muito comum, mas diante de uma cidade tão pobre quanto Potosi, nós, sinceramente não tivemos coragem de negociar para baixar preços tão baixos. Tudo era incrivelmente barato, assim como é em todo o país, mas a gente daquela cidade era muito pobre e com um vasto histórico de exploração. Decidimos pagar pelo preço oferecido, já que era tão baixo e assim seguimos viagens por diversas cidades. Apenas quando percebíamos que estavam cobrando mais alto por sermos estrangeiros é que negociávamos. Como percebíamos, segunda observação.
Os Bolivianos, de modo geral, são pouco amigáveis, menos ainda, amáveis e quase nunca educados. Te tratam com desdém, fazem pouco caso da sua presença, ignoram suas perguntas. Em estabelecimentos comerciais sempre, praticamente uma regra, te atendem de cara feia, não do tipo do atendimento dos estabelecimentos da minha cidade, mas sim, como se você tivesse cometido um crime contra um deles. Eles te atendem com cara de raiva. Poucos são os que te atendem com um sorriso, que respondem ao seu cumprimento de chegada e que te dão informações.
Olham os estrangeiros de cima a baixo e quando resolvem atender possa ser que ainda ofereçam um preço mais alto. Te olham de baixo pra cima, te miram a cara, perguntam de onde você é e, por fim, te dão o preço, a informação, ou simplesmente vão embora kkkkkkkkk. Como eu tava ali pra apreciar a cultura daquele país, o que eu mais fazia nessas situações era rir e muito. Salvo uma vez, quando chegamos em La Paz, que fiquei muito, mas muito estressada e xinguei uns bolivianos até conseguir uma mísera informação, eu não tava bem nesse dia. No mais, era pura diversão.
E mentem, ahhhh como mentem os bolivianos pra te vender qualquer coisa. Sempre procuramos hospedagem com banho quente e wifi, básico. Na Bolívia, mesmo que não tenha nem a cama eles vão te vender como um hotel 5 estrelas kkkkkkkk. Nós, bobinhos, marinheiros de primeira viagem, caímos umas duas vezes no canto do vigário boliviano kkkkkkkk, as vezes o hostel não tinha wifi, outras não tinha um chuveiro com água quente.
Chegamos num hostel na cidade de Copacabana (eita Copabacana que aconteceu coisa) e a pergunta básica: tem wifi e banho quente? e a resposta sempre na ponta da língua, "tem sim" como Copacabana foi a última cidade da Bolívia já estávamos encaliçados e os bolivianos não iam mas nos surpreender como fizeram em outras cidades. Wifi e água quente no chuveiro verificados e aprovados, fizemos check-in.
Saímos pra comer e quando voltamos a internet não funcionava. Buscamos informações e o carinha da recepção nos deu uma nova senha, porém, percebemos o quanto ele ficou desconfiado quando o dono do restaurante, que ficava no mesmo terreno do hostel, passou. Uma hora a mais e a internet parou de novo, agora já não tinha nova senha, o que tinha era que descobrimos que o hostel roubava a senha do restaurante kkkkkkkkkkk coisas que só acontecem na Bolívia.
Mas lembra que disse que o chuveiro tinha água quente? pois tinha mesmo, mas só funcionava de 7 da manhã às 10 da noite kkkkkkkkkk de 10 da noite às 7 da manhã, desligavam a chave geral de energia do hostel e você não podia nem carregar o celular enquanto dormia kkkkkkkkkkkkkk mas lembra também que eu disse por aqui tudo era muito barato? pois, esse hostel maluco custava, por pessoa, por noite, apenas sete reais. Era muito barato. Apesar da wifi roubada e horário para banho quente, resolvemos ficar porque o quarto era muito bom, as camas eram bem confortáveis e por sete reais, nem camping né?
Outro ponto da Bolívia que, não chegava a me estressar, mas cansava muito, era procurar comida. Como disse uns parágrafos acima, os país é muito sujo. "Ahhhhh Regina, o Brasil não é assim esse primor de limpeza" não, não é, mas no Brasil, temos pontos sujos. Um bairro, uma praça, ruas. No caso da Bolívia é o país inteiro, salvo a cidade de Sucre. Então achar um lugar legal pra comer não era tarefa fácil. As ruas, as praças, a maioria dos restaurantes, as pessoas, as roupas... tudo sujo.
Subindo o cerro da cidade de Copacabana, um caminho de uns 2Km, fedia a fezes (para aqueles de estômago fraco, pule para o próximo parágrafo) ao chegar no topo do morro descobri que haviam inúmeros vendedores que passavam ali o dia inteiro, quiçá, dormiam por ali também e pelo cerro iam satisfazendo suas necessidades. Detalhe que eu só comecei a perceber o mal cheiro quando já havia subido mais da metade do cerro, ou seja, já estava bem próxima de onde estavam os vendedores.

Um país sujo, gente grosseira e mal educada, pelo menos para com os estrangeiros, o que esperar do trânsito? Pedestre não tem vez, acho que na visão dos motoristas, não deveriam nem existir kkkkkkkkkk atravessar uma rua de qualquer cidade era mais difícil do que matar uma barata que voa kkkkkkkkk os carros loucos pelas ruas, ultrapassagens surreais e a disputa das vans pelos passageiros transformava o simples ato de atravessar uma rua em uma aventura.
Pela Bolívia não viajamos de carona. Não rolava. A galera queria sempre cobrar o preço da passagem pra te"levar de carona" repare! Decidimos então pagar essas passagens em ônibus mesmo, pelo menos podíamos programar direitinho a viagem. Como só nos deram 30 dias de permanência no país (sacanagem deles pra cobrar pra revalidar) de ônibus seria mais fácil fazer uma programação pra esse período.
Eita Bolívia.
Cada cidade uma aventura. Aliás, era só andar por suas ruas para o divertimento ou o estresse está ali às suas mãos. Ao seu alcance.
Decidimos nos divertir.
E assim de alma receptiva conseguimos colher o melhor do país. Vivenciamos uma cultura riquíssima de uma gente que não se deixou abater, apesar de tentarem acabar com sua cultura. Indígenas que não abrem mão de suas crenças, de seus hábitos. É um povo pobre, sim. Mas não vimos em nenhuma cidade, em nenhum momento crianças pedindo esmolas. Não nos sentimos, em nenhum lugar, em nenhuma rua escura, o medo, a ameaça. Apesar da pobreza é um lugar muito seguro para andar, percorrer suas ruas, seja de dia ou de noite. Claro que há de estar atento, porque sempre há os ladrões de ocasião, como diz a minha mãe! Mas, em nenhum momento nos sentimos ameaçados por algum tipo de insegurança. Nada. Super tranquilo.
Além de não ver crianças pedindo esmolas, apenas algumas pessoas já bem velhinhas, também não vimos, uma pessoa sequer, usando drogas, tão pouco oferecendo, o que é muito comum para turistas.
O que vimos foi uma gente mega trabalhadora, que vendiam de tudo de domingo a domingo, o dia inteiro. Um gente que não se deixava abater pelo frio ou calor. Que seguiam firme com suas tradições indígenas. Apesar da severa exploração sofrida anos atrás, continuam firmes.
Se eu gostei da Bolívia? eu amei a Bolívia. Se eu voltaria lá? sem dúvida voltarei!
Cidades que visitamos:
Uyuni - Passamos pela cidade durante o tour que cruza o Salar. O maior deserto de sal do mundo, de onde se explora 75% do lítium mundial. Mas a Bolívia é o país mais pobre da América do Sul. A passagem pelo Salar foi descrita aqui nesse outro post do blog. Dá uma conferida lá!

Potosi - A cidade é grande representante do clichê boliviano: suja e gente grosseira. Foi protagonista da mais horrível história do país da época da exploração da prata. Ainda possui uma mina ativa que, além de ainda ter a exploração da prata, também é aberta pra visitação. Eu não fui. A cidade está a mais de 4mil metros de altitude em relação ao nível do mar. Respirar não é tarefa fácil. A mina está mil metros mais acima e as agências avisam que em alguns trechos é necessário andar agachado. Ok, tchau! Os ônibus da cidade são extremamente velhos e soltam uma fumaça preta deixando o ar impossível de respirar. Sai do hostel direto pra uma farmácia comprar uma máscara.

Sucre, a capital da Bolívia - A cidade branca da Bolívia. Sucre é surpreendentemente limpa! A exclamação de todos no quarto do hostel que ficamos era de que Sucre não parecia Bolívia! A cidade conta com uma boa rede de hotéis e restaurantes. O trânsito é organizado, as ruas são limpas e as pessoas são mais educadas. Ahhh ainda é a terra do chocolate na Bolívia, amei!

Santa Cruz de la Sierra - Pior decisão de roteiro da viagem. A cidade não tem absolutamente nada, apenas atrai aqueles que querem fazer compras, para isso conta com um centro comercial enorme com preços bolivianos. Cheia de brasileiros que vão pra lá fazer compras. Não tem nada cultural na cidade, além de ser muito, mas muito quente. Chegamos às 8h da manhã e às 4h da tarde estávamos de partida para La Paz.

La Paz - É a cidade mais importante do país, sede do governo e centro financeiro. A cidade conta com um moderníssimo teleférico e funciona como um metrô aéreo. Não é trurístico, mas é de dentro dele que se tem a melhor vista da cidade, vale muito a pena um "passeio". Aqui é fácil encontrar de tudo um pouco da cultura boliviana. No mercado de las brujas é o que mais representa, vende de tudo que é produto artesanal. Fácil se apaixonar pelos produtos de altíssima qualidade e preços baixos e fazer altas compras. Entrei em depressão! kkkkkkk

Copacabana - Um vilarejo à borda do lago Titicaca. Tem um visual incrível, o lago é de uma beleza impressionante, é enorme, parece um mar e sua cor um azul profundo que te hipnotiza. Aí está localizada a igreja Nossa Senhora de Copacabana que levada uma réplica, pelos espanhóis, para o Rio de Janeiro, deu origem ao bairro e sua famosa praia. Também conta com a Isla del Sol, uma ilha no lago Titicaca que possui ruínas Incas e conta com uma beleza natural que é do tipo "tem que ir". Eu fui!
Essa foi a minha Bolívia.
Conheci gente durante a viagem que a odiou. Outras que achou legal. Mas conheci uma multidão que amou. Tamo junto!!
Partiu Peru!!
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